Reuven
Freuerstein, psicólogo e um dos idealizadores da teoria da modificabilidade
cognitiva estrutural, nasceu na Romênia, foi discípulo de Piaget e trabalhou
com adolescentes que sobreviveram ao holocausto. Esses jovens eram em sua maior
parte órfãos de vários países e consequentemente de várias culturas, que
apresentavam baixos níveis cognitivos. Através de estudos e observações de Freuerstein,
foi idealizada a Teoria M. C. E; onde o conceito de inteligência está pautado
na capacidade do indivíduo se adaptar a novas situações através de suas
experiências mediadoras. Este conceito de inteligência vai além do desempenho
cognitivo, pois envolve estruturas mentais responsáveis também pela capacidade
social, moral e emocional do indivíduo.
A
hipótese da Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural possui
pressupostos, que são comprovados pela neurociência: a concepção da ontogenia
dupla do ser humano e capacidade de adaptação do cérebro humano, conhecida como
neuroplasticidade.
A
flexibilidade e rigidez cognitiva estrutural para Freuerstein decorrem da ação
educacional que age no indivíduo através da família e da escola, portanto,
quanto menos ações, mais rígidas será sua estrutura cognitiva. Essa ausência de
experiências de aprendizagens é considerada pelo psicólogo como Privação
Cultural, desta forma, o teórico postula várias ações específicas e posturas
que caberão ao mediador realizar, modificando sua estrutura cognitiva
estrutural.
Na
neurociência essa modificabilidade chama-se plasticidade e segundo Marta Relvas
(2015, p.108-109):
Atualmente se entende
que o cérebro não só é capaz de produzir novos neurônios, mas também de
responder a estimulação do meio ambiente, com um aprendizado que tem a ver com
modificações ligadas a experiências, ou seja, modificações que são a expressão
da plasticidade intencional.
A
ontogenia dupla é resultado da relação entre a ontogenia biológica, o que nos
torna seres humanos e a ontogenia sociocultural, que nos torna seres sociais.
Esses pressupostos podem ser encontrados também nos estudos de Vygotsky,
citados como a filogênese (história da espécie humana) e a sociogênese
(história do grupo cultural) ( La Taille, 1992)
Freuerstein
baseou outros conceitos nos estudos de Piaget e Vigotski. Em sua teoria Piaget,
destacou que o processo de aprendizagem se dá por três fatores biológicos
conhecidos como equilibração, assimilação e acomodação, ainda segundo Piaget
(PULASKI, 1986) “compreende-se a aprendizagem como uma relação evolutiva entre
a criança e o seu meio, numa perspectiva interacionista”. Ele constrói seu
conhecimento sendo influenciado pelo ambiente, não o copiando. Já nos estudos
de Vygotsky, percebe-se a relação entre os processos psicológicos humanos e a
inserção do indivíduo num contexto sócio-histórico específico. Ele aborda
também a mediação, onde o conhecimento real é o que o indivíduo consegue
realizar sozinho e o potencial é o que ele necessita de um mediador para que o
conteúdo internalize, o que chamamos de Zona de Desenvolvimento Proximal.
Para Freuerstein o desenvolvimento cognitivo
necessita impreterivelmente de mediação para ser eficaz, o que diverge da
Teoria da Epistemologia Genética e o aproxima da Teoria Sócio-Cultural de
Vygotsky. Enquanto Piaget concentra sua atenção na restruturação interna do
pensamento, Vygostsky ressalta a importância de modelos socioculturais e
Freurestein defende a ideia de que para haver aprendizagem é preciso que o
estímulo seja mediado.
Essa
mediação defendida por Freurestein e a relação entre a experiência e o estímulo
é para neurociência o ápice da aprendizagem. Estudos neurocientíficos salientam
que a aprendizagem acontece em tempos e etapas diferentes e cada cérebro é
diferente do outro, portanto a prática pedagógica tem que ser consciente e
pertinente. Com isso, através das experiências o indivíduo reformula suas
conexões neurais em função das necessidades e fatores do meio ambiente.
A
concepção sobre operações mentais de Piaget é aproveitada por Freuerstein para
idealizar seu quadro sobre funções cognitivas. Essas operações descritas por
Piaget é a reversibilidade que o indivíduo poderá fazer através de diversas
representações e ações sobre um evento. Já Vigotski, vê essas operações como
níveis de inteligência causados pela intervenção cultural dos mediadores, não
só a maturação biológica.
Essas
operações também são conhecidas pela neurociência como funções executivas e são
descritas por Roberto Lent (2015) como “o conjunto de operações mentais que
organizam e direcionam os diversos domínios cognitivos categoriais para que
funcionem de maneira biologicamente adaptativa”. O ambiente possui diferentes
desafios, exigindo do indivíduo habilidades de várias funções cerebrais. Essas
funções incluem tomadas de decisão, lógica, estratégias, planejamento,
raciocínio e controle mental. Esse conjunto de funções é responsável pela
organização e planejamento das nossas ações resultando em adaptações do
indivíduo no ambiente.
Para
Freuerstein, o mediador é responsável pela estimulação das ações mentais, de
funções executivas e metacognitivas para que o aprendente os realize com
autonomia e intencionalidade, portanto, modificando sua estrutura cognitiva. Os
critérios de mediação estão pautados na intencionalidade e reciprocidade,
transcendência, e mais noves tipos de mediação.
Para
o planejamento do mediador, suas ações devem pautar três fases: mediador
atuante, mediador observador e regulador, mediador pouco atuante. Ele precisa
acreditar no poder da transformação e desenvolvimento do ser humano.
Freuerstein através de seus estudos elaborou um Programa de Enriquecimento
Instrumental para que possa provocar a modificabilidade cognitiva estrutural em
aprendentes, para que estes pudessem se tornar mais perceptivos e motivados,
como também aprender a apreender.
O
PEI é aplicado em alunos com níveis de atraso no desempenho cognitivo ou que foram
privados culturalmente. Ele pode ser aplicado tanto em sala de aula como em
intervenções individuais, com educandos considerados ou não deficientes. É
composto por quatorze instrumentos, onde constam situações-problema, cada um
com a função cognitiva específica, sendo eles relacionados com as funções de
percepção, elaboração e comunicação.
Assim
aliando a Teoria de Feurestein e a Neurociência, entendemos a importância do professor
sintonizar-se com os avanços científicos que contribuem para a educação, pois a
prática pedagógica do professor muda completamente quando ele é capaz de
conhecer o funcionamento do cérebro e a importância da mediação de forma
eficaz. Além disso, a perspectiva dessas duas fontes é bastante otimista e pode
nos encorajar a não desanimar ou desistir porque todos são capazes de aprender.
Referências
Bibliográficas:
GONÇALVES,
Carlos Eduardo de Souza; VAGULA, Edilaine. Modificabilidade Cognitiva Estrutural
de Reuven Feuerstein: Uma perspectiva educacional voltada para o
desenvolvimento cognitivo autônomo. In: IX ANPED SUL- SEMINÁRIO DE PESQUISA EM
EDUCAÇÃO NA REGIÃO SUL, 2012. Disponível em: http:< http://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2012/Psicologia_da_Educacao/Trabalho/06_10_59_1106-6841-1-PB.pdf > Acesso em: 28 jan. 2016
LENT,
Roberto. Neurociência da Mente e do Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara
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LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de;
DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon – teorias psicogenéticas em
discussão. São Paulo: Summus, 1992.
PISACCO,
Nalba Maria Teixeira. A mediação em sala
de aula sob a perspectiva de Feuerstein: Uma pesquisa ação sobre a interação do
professor –aluno-objeto da aprendizagem. 2006. Tese (Mestrado em Educação)-
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 04 de dezembro de 2006.
PULASKI,
Mary Ann Spencer. Compreendendo Piaget. Rio de Janeiro : Livros Técnicos e Científicos, 1986.
RELVAS,
Marta Pires. Neurociências e Transtornos de Aprendizagem: as múltiplas
eficiências para uma educação inclusão. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Wak Editora,
2015.
http://recil.grupolusofona.pt/bitstream/handle/10437/2828/O%20m%C3%A9todo%20de%20Reuven%20Feuerstein...Corpo%20de%20texto.pdf?sequence=1