O cérebro e a emoção na sala de aula

O relativo trabalho postado nesse blog é uma reunião de pensamentos de colegas  da pós-graduação, e com a permissão delas estou postando hoje.
Obrigada Ana Claudia, Danielle Senna, Gabriela Pires, Isis de Bem, Márcia Piquet, Sheirly Rodrigues  e Valeria Rodrigues. 


Percebe-se que as aulas precisam ser elaboradas com originalidade e criatividade, no intuito de estimular os alunos, gerando emoção, que é um processo interno desenvolvido através de reações biológicas. Henri Wallon (2012) fazia essa relação usando o nome de afetividade, segundo ele a teoria do desenvolvimento humano é um processo biológico, e é preciso considerar que a conduta emocional depende de centros subcorticais, ou seja, sistema límbico ou circuito de Papez, sendo incontrolável. O cérebro pode ser dividido em três partes, são elas:

Rombencéfalo - Composto pelo tronco cerebral e herdado dos reptes, ele é responsável pelos mecanismos básicos da reprodução e autoconservação;
Diencéfalo – É o cérebro intermediário, composto pelo sistema límbico se encontra perto do tronco cerebral e onde se encontra a amídala, e ela funciona junto com o hipotálamo e tem a função de identificar o perigo, como também responsável pelo medo, ansiedade e estado de alerta preparando o corpo para a luta ou fuga;
Mesencéfalo – É o cérebro superior e está dividido em pré-frontal, parietal, temporal e occipital;
Cerebelo – Responsável pelo equilíbrio, tônus muscular, movimentos involuntários e aprendizagem motora.
O diencéfalo é responsável pela emoção gerada no cérebro gerando o instinto de sobrevivência e bem-estar psicológico, tais como: raiva, medo, alegria, ansiedade, euforia, etc. Em neurociência emoção e sentimentos são processos distintos. A emoção é biológica e o sentimento é toda a interpretação do biológico pelo corpo humano, é o que se chama de comportamento e nele pode-se ter influência do lobo pré-frontal. Encontramos no cérebro intermediário as seguintes regiões que controlam as reações emocionais: o tálamo, hipotálamo, giro do cíngulo, amídala cerebral, hipocampo, dentre outros, mas esses estão intimamente ligados aos comportamentos essenciais do homem. 
Nesses momentos há um bombardeio de neurotransmissores no sistema, e esses neurotransmissores estarão ligados com o estado de alerta dos alunos para que depois possa se formar memórias.

Não se pode lembrar-se de todos os acontecimentos ao longo da vida, porque é preciso dar lugar a novos acontecimentos e o cérebro de cada indivíduo escolhe o que esquecer. Por esse aspecto, o planejamento de ensino com uma prática pedagógica e o ambiente estimulador se faz necessário para contribuir com um desenvolvimento motor e cognitivo satisfatório. Dentro de uma sala de aula podemos encontrar uma pluralidade, tanto cultural como subjetiva, não se esquecendo do papel importante da família no que cerne a emoção do aluno, portanto, é preciso haver um olhar para cada um, já que na escola cada cérebro aprende de forma diferente, seja ele visual, auditivo ou sinestésico.
 O autor Iván Izquierdo (2011) fala muito bem sobre como a aprendizagem ocorre de acordo com o sistema de recordação, de feedback, percebendo, desta forma, que a recordação está diretamente envolvida com os acontecimentos que possuem um forte grau de alerta emocional.  Portanto, sem esse sistema de recordação, o cérebro não identificará um acontecimento importante e este poderá ser descartado, pois o mesmo autor enfatiza a importância de esquecer. Logo, a consolidação só acontecerá se o aprendizado estiver intimamente ligada à emoção do aluno, porque quando este vai dormir o cérebro selecionará as aprendizagens significativas que se encontram no sistema límbico, nossa memória de curto prazo, e as transferirá para o córtex pré-frontal, a memória de longo prazo. O que não chega à memória de longo prazo o cérebro descarta.
Segundo a autora Marta Relvas, uma importante contribuição para a aprendizagem dos alunos é:
“instrumentalizar o educador a tornar o ato de aprender e estudar do seu estudante mais prazeroso e interessante, pois o cérebro só assimila as informações por meio de recursos metodológicos atraentes, instigantes, contextualizados e aplicados no dia a dia.” (2014, p.24).

Desta forma, da vida embrionária até a chegada da vida escolar as crianças aprendem através das estimulações que chegam as conexões neurais. Elas funcionam como uma rede e podem ser fortalecidas. Para isso, estes estímulos terão que estar relacionados com as vivências anteriores para que haja ganchos de memórias, nesse conceito, algo só irá para a memória quando criamos circuitos neurais ligados a outros já existentes. Percebe-se a importância de dinamizar as aulas, para chegarmos a um ponto positivo e alcançarmos a tão sonhada aprendizagem através dos recursos pedagógicos como jogos, atividades realizadas em grupo, vídeos, músicas, brincadeiras, atividades artísticas, etc. É o que afirma Serrano Freire, quando diz que devemos estar atentos aos discentes atuais:
“O aluno de hoje quer um professor motivado, sonhador, que acredite na força do seu trabalho, com atitudes inovadoras, desafiadoras e não de um professor com atitudes e soluções ultrapassadas” (2012, p. 19).

Quando o aluno é incentivado a tomar uma posição mais ativa em sala de aula, ele se sente incluído e, desta forma, é possível atingir uma emoção e automaticamente a motivação, o desejo que impulsiona seu desempenho e o envolve nos estudos. Buscar o envolvimento do aluno é o caminho mais eficaz para uma aprendizagem realmente significativa sem deixar de considerar o que Consenza afirma:
“É bom não esquecer, mais uma vez, que o cérebro se dedica a aprender aquilo que ele percebe como significante, portanto, a melhor maneira de envolvê-lo é fazer com que o conhecimento novo esteja de acordo com suas expectativas e que tenha ligações com o que já é conhecido e tido como importante para o aprendiz.” (2011, p. 58)


 Deve-se então partir do princípio que o professor deve respeitar os saberes de cada aluno e também seus conhecimentos vindos da sua realidade cultural e social. E sendo o professor peça chave do processo de mediação do aprender, do pesquisar, do fazer, do ensinar e do pensar certo, este deve refletir de forma inerente e abrangente toda a formatação e construção do seu planejamento, levando em consideração o “DNA” de cada turma a que leciona.
Levando em consideração as três vias de aprendizagem do educando e sua bagagem cultural, deve-se criar uma escola criativa, a qual através de dinâmicas, brincadeiras e com pensamentos mais abstratos, atingindo ao ponto em questão que é a motivação e assim a produção de conhecimentos e memórias se torna mais prazerosa e simples, pois não se pode limitar a imaginação e a evolução das habilidades de nosso alunato.
A autora Marta Relvas em várias publicações apresenta oito dicas para melhorarmos a qualidade das aulas (2014, p.25):
- Motivar os alunos;
- Perceber situações de estresse, ansiedade e estados depressivos;
- Atentar para o tom de voz utilizado pelo professor;
- Observar o retorno cognitivo e emocional, a movimentação do corpo e o bom humor;
- Incentivar bons hábitos de nutrição e o sono;
- Perceber a forma única de aprender de cada indivíduo;
- Aplicação das diversas práticas pedagógicas;
De uma forma prática é preciso ter inúmeras formas de envolver o aluno, motivá-lo e ajudá-lo a se desenvolver. Pode-se começar com pequenas mudanças do cotidiano, sem esquecer de que se leva tempo para que os discentes possam se acostumar com as inovações, portanto, não se pode esmorecer se aparentemente não surgir resultados imediatos.
É preciso reconhecer que eles estão em pleno desenvolvimento do córtex pré-frontal, o que reflete no potencial da aprendizagem, em atividades de projeção de objetivos e na relação entre causa e conseqüência. Sendo assim, é preciso colocar todos os dias o objetivo da aula no quadro de forma visível e ao final retornar para verificar se conseguiram atingi-lo. Desta forma, os alunos estarão dando significado aos conteúdos apresentados, por serem capazes de entender o porquê de estarem recebendo determinadas informações.
Também não se pode esquecer que sempre que possível precisamos aproveitar diversos canais sensoriais, a exposição verbal apoiada em recursos visuais, auditivos e sinestésicos. Isso é importante, pois é preciso ter o entendimento que a memória é armazenada em diversas partes do cérebro, para lembramos de um conceito há um conjunto de fragmentos vários para formar uma imagem integrada. Ao expor os alunos a experiências sensoriais variadas incentivamos a ativação da rede neural. De forma prática é preciso escolher uma música para marcar um conceito importante, dispor de recursos visuais para explorar a consolidação de informações, marcarem pontos importantes com auxílio dos mesmos, como por exemplo, pedir que eles batam palmas quando escutarem uma determinada palavra ou, incentivar a competição saudável.
Outra ferramenta pouco utilizada em sala de aula são os recursos tecnológicos, muitas vezes eles ficam reduzidos apenas à fonte de pesquisa. Por reconhecer que as crianças e adolescentes apresentam certa disposição em utilizá-los sem dificuldades pode-se dar uma nova “cara” para essas ferramentas, podendo avaliá-los por meio de um blog que eles possam montar em grupo, divulgando conceitos aprendidos em sala, montar vídeos tutorias, passar tarefas por meio do Whatsapp ou Facebook. Porém é preciso ter em mente que o planejamento e a paciência são fundamentais para o educador, pois nem todos os educandos possuem habilidades com os recursos tecnológicos como também ajudá-los a ter um bom critério nas escolhas desses recursos.
Esses pontos podem mudar a postura do professor, gerar mais atenção por parte dele com relação ao planejamento de aula e também em relação ao comportamento de seus alunos no desenvolvimento das atividades simples do dia a dia, consequentemente promovendo um processo de aprendizagem mais eficaz. A escola tem o papel de promover um bom convívio entre as diferenças e automaticamente consolidar a aprendizagem de maneira única para cada aluno. “É importante garantir que essas crianças tenham êxito em situações diversas para que se vejam e sejam vistas pelo grupo como valorosas.” (NOVA ESCOLA,2014,p.93)
Portanto, cabe ao professor criar condições para que todos tenham acesso ao conhecimento, valorizando aquilo que sabem fazer e incentivando-os a vencerem os desafios correspondentes a aprendizagem.
De acordo com Serrano Freire:
 “A escola do século XXI precisa de educadores visionários, verdadeiros empreendedores. São estes, sim, os grandes transformadores do presente, que trazem o futuro para hoje, que aliam sonho e competência, que não enxergam apenas os seus limites, mas imaginam como superá-los”. (2012, p.17)

O professor tem em suas mãos os caminhos para guiar o processo de ensino, deixando de lado o simples ato de transmitir informações, precisa incentivar a resolução dos problemas, ajudando os alunos a encontrar saídas para que possam aprender os conteúdos propostos. É necessário auxiliá-los a aprender, buscando superar os limites.
Cada aluno tem a sua particularidade e o educador deve estimulá-lo a superar as dificuldades propondo a resolução de problemas e desafios de forma prazerosa, para que ele tenha orgulho de si mesmo, por ter alcançado a vitória sobre a sua dificuldade ou mesmo por ter conseguido compreender ou resolver o que foi ensinado/proposto.
Serrano Freire, ainda ressalta que:
“Os fatores que mais contribuem para o desenvolvimento cognitivo de uma criança são: a superação de dificuldades, a resolução de problemas e a conquista de desafios. Cada vez, que uma criança supera dificuldades na escola ou na vida, resolve problemas por conta própria ou conquista por si mesma os desafios que lhes são apresentados, está abrindo espaço para a construção de novas sinapses no cérebro, ou seja, ela está desenvolvendo sua inteligência. Sabendo disso, o professor deve agir para que isso tudo ocorra. A postura equivocada de “transmitir informações” sem que o aluno se envolva na construção do conhecimento não permite o desenvolvimento cognitivo, pois não apresenta nenhum dos três fatores”. (2012, p.93)


O pensar leva a uma reflexão de como fazer, e fazer bem feito para um objetivo positivo no processo de aprendizagem do educando, o qual é o alvo de interesse para aplicação daquilo que é pensado. Mas para que tudo isso dê certo, é necessário uma pré-disposição do educador em fazer e ensinar, tentando amenizar e construir de forma estimuladora o seu planejamento ou projeto para um bom aprendizado e sucesso na aplicação do que foi traçado nele. Por isso, se faz necessário ter metas e objetivos na hora de planejar em prol da perseverança do saber, para perseverar e seguir rumo ao horizonte do saber, buscando a motivação de cada educando diante da variedade e originalidade do trabalho promovido, devendo o aluno ser encorajado para que os processos mentais diante das sinapses possam estar bem sedimentados no processo do aprender, do fazer e da internalização dos mesmos, através do cognitivo de cada um individualmente, pois cada ser possui uma singularidade e isso deve ser respeitado no processo do aprender a aprender.
            É necessário estar sempre analisando e refletindo sobre aquilo que se faz dentro da prática e não fazendo por fazer, deixando de respeitar a leitura de mundo de cada criança envolvida no processo.
“O importante é fazer do menino e da menina, moça ou rapaz, homem            ou mulher, no seu maior sentido e desafio que é tornar-se pessoa e autor de sua vida. Esse é o principal papel que o educador exerce em seus estudantes, o de incentivar, o de tocar no mais sublime ser: A ESSÊNCIA DE SER HUMANA BIOÉTICO, independentemente de seus gêneros, etnias, culturas.” ( RELVAS,2010,p.152)
Cabe a todos os envolvidos no processo educacional respeitar o pensamento de ambos os sexos, pois cada um tem sua evolução dentro do processo do aprender, cabendo ao educador saber respeitar essas singularidades e nunca esquecendo que todas as pessoas possuem uma maneira de aprender e compreender os fatos.
Portanto, ao resolver problemas e superar as dificuldades, os alunos são encorajados a vencer os desafios, especialmente quando isso é feito de uma forma dinâmica com jogos ou competições, que os emocione verdadeiramente. Assim, cada vez mais passam a acreditar em seu potencial, têm a sua autoconfiança estimulada e sentem-se motivados a continuar aprendendo.



Bibliografia:
CONSENZA. Ramon M. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
FREIRE, José Carlos Serrano. Seja o professor que você gostaria de ter. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2011.
IZQUIERDO, Iván. Memória. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
NOVA, Escola [org.].  O Dia a dia do professor: como se preparar para os desafios da sala de aula.  São Paulo: Editora Nova Fronteira, 2014.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2010.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência na prática pedagógica. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2012.
RELVAS, Marta Pires [org.]. Que cérebro é esse que chegou à escola? As bases neurocientificas da aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2012.
RELVAS, Marta Pires. Sob o comando do Cérebro – Entenda como a neurociência está no seu dia a dia. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2014.

MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de (Org). Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola Jesuítas, 2012

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

Formulário de contato